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14 de abril de 2010

Elaine e Rosemary

Revista: ISTOÈ

Psicologia N° Edição: 1723 | 09.Out - 10:00 | Atualizado em 08.Dez.09 - 07:51
ISTOÉ COMPORTAMENTO
Pesquisado por -Elaine e Rosemary

À flor da pele
Chorar e se estressar por qualquer coisa pode não ser frescura, mas sintomas de alta sensibilidade
Camilo Vannuchi
As mulheres sonham com homens sensíveis, capazes de se emocionar e compartilhar gentilezas. Os rapazes querem garotas delicadas e carinhosas. Se um homem ou uma garota não for sensível, não serve. Poucos sabem que a sensibilidade também é motivo de dor de cabeça. Em demasia, pode causar ansiedade, stress, irritabilidade, e transformar a vida dos sensíveis em uma sucessão de transtornos. É isso o que afirma a psicoterapeuta americana Elaine N. Aron, autora do livro Use a sensibilidade a seu favor (Ed. Gente), que acaba de ser publicado no Brasil. Primeira de uma série de quatro obras dedicadas ao tema lançadas nos Estados Unidos, a publicação investiga o que leva as pessoas a, por exemplo, se apavorar em locais barulhentos, chorar com facilidade ou colocar a mão na frente dos olhos diante de cenas de violência. Quem apresenta esse tipo de comportamento, segundo a autora, pode ser uma Pessoa Altamente Sensível (Highly Sensitive Person). O termo, cunhado por ela nos anos 90, é hoje bastante comum nos consultórios americanos. “Alta sensibilidade é característica de pelo menos 15% da população. O indivíduo processa as informações sensoriais de maneira mais profunda. Quando há estimulação intensa, o sistema nervoso sensível é esmagado. Isso pode alterar sua relação com o ambiente e com os outros”, explica Elaine.
Esmagado é uma boa definição para o sentimento que abate a estudante paulista Luisa Destri, 17 anos, sempre que escuta buzinas, alarmes de carro, ou quando ninguém atende o telefone. “Tenho vontade de jogar o aparelho no chão ou matar quem deixa o alarme disparar”, diz Luisa. Ela também se sente mal quando, em uma festa, a luz estroboscópica – aquela que pisca freneticamente – é acionada. “É como se eu ficasse tão incomodada que seria capaz de fazer qualquer coisa para fugir daquela situação”, conta. Dar valor excessivo a sons que outras pessoas não notam ou se sentir desconfortável com luz intensa são, segundo Elaine, sintomas comuns de alta sensibilidade. Da mesma forma, a possibilidade de sentir dor faz outras pessoas altamente sensíveis perderem as estribeiras. “Quando tinha nove anos, desmaiei durante um exame de sangue. Desde então, sempre que tenho de tomar vacina eu choro, faço um escândalo”, lembra Fernanda Sato, 17 anos, amiga de Luisa. Com o tempo, Fernanda percebeu que ir sempre ao mesmo laboratório a deixa calma. “Lá, a equipe já me conhece e me deixa tomar vacina deitada para prevenir um eventual desmaio”, conta Fernanda.
Aprender a superar as intempéries do ambiente e a driblar situações (e os comentários) desfavoráveis – muitas vezes causadas por parentes, colegas e professores – faz parte do manual de sobrevivência das Pessoas Altamente Sensíveis. Não raro, elas cresceram com a pecha de bebês chorões, crianças chatas e adolescentes tímidos. “Como a alta sensibilidade é uma característica natural, é errado e impossível querer eliminá-la. Mas os psicanalistas podem ajudar a desenvolver estratégias para lidar melhor com o mundo”, diz Elaine. O estudante de direito Joaquim Mariano da Costa Neto, 24 anos, aprendeu na marra a superar o que Elaine chama de “desconforto social”, um eufemismo para a timidez, uma das demonstrações mais comuns de alta sensibilidade. Ele é do tipo perfeccionista, que supervaloriza a reação dos outros e fica magoado quando recebe uma resposta atravessada. “Às vezes fico remoendo durante um tempão. Outra vezes posso estourar e responder no mesmo tom, o que acaba sendo um alívio”, diz. Joaquim cursa direito no Largo São Francisco (USP) e já descartou qualquer possibilidade de encarar um júri com platéia lotada, como nos filmes americanos. “Hoje, convivo bem com meu jeito. Minha sensibilidade me faz pensar antes de falar. Sempre procuro imaginar o que os outros vão achar do meu comentário e tomo cuidado para não agredir ninguém. Até porque sei muito bem o que é se sentir mal por causa de uma crítica mal colocada”, explica.
Neurótico? Nada disso. Para Elaine, a alta sensibilidade é uma característica comum demais para ser encarada como uma neurose e também difere dela por ser inata, nunca resultado de um conflito ou de um trauma. “E, se por neurótico entende-se alguém afetado por sentimentos como ansiedade, depressão, irritabilidade ou timidez, minha pesquisa indica que isso só acontece com quem viveu uma infância difícil. Determinar que elas sofrerão problemas é o mesmo que dizer que pessoas de pele clara terão câncer de pele”, compara a psicóloga. Em outras condições, pessoas altamente sensíveis sabem aproveitar seus poderes natos, como a capacidade de apreciar obras de arte, intuir com facilidade e, por serem reflexivas e atentas, raramente cometer erros. Responda ao teste para saber se você também é altamente sensível.

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