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8 de junho de 2010

Taiane

Olá meninas, como prometido durante o seminário, estamos postando os depoimentos contidos no artigo sobre Transexualidade: corpo, subjetividade e saúde coletiva.
Lembrando que estes relatos foram adquiridos a partir de uma pesquisa realizada pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (HUCFF/UFRJ) com transexuais que procuraram atendimento com o objetivo de realização de cirurgia de transgenitalização.

Demanda pela Cirurgia de Transgenitalização:

"É porque eu não me penso neste corpo ... Embora eu reconheça que biologicamente sou do sexo masculino, para mim eu não sou homem. Foi isso que me fez procurar ajuda, eu vivia entrando em depressão ... Eu só quero levar a minha vida normalmente, sem esses problemas. Ser um ser humano normal, ter os direitos que eu não tenho." (Roberta, 33 anos).

"Eu sinto necessidade de fazer essa cirurgia, eu estou com um espírito montado num corpo que não é meu, então eu não me sinto bem" (Maria, 41 anos).

"Eu quero fazer a cirurgia, veja bem, eu me sinto uma supermulher. Eu não tiro meu chapéu para mulher nenhuma. Eu sou super feliz comigo mesma, mas, na realidade, eu tenho uma coisa que me incomoda. Me incomoda porque não tem nada a ver comigo fisicamente, não tem nada a ver comigo psicologicamente." (Priscila, 36 anos).

Relatos de Intenso Sofrimento Psíquico:

"Eu já pensei em suicídio várias vezes. Eu tenho entrado em muito desespero por causa disso [dificuldade de arranjar emprego]. Eu acho que mesmo operando ainda vão continuar os problemas por causa da mudança de nome. Eu vou vivendo a minha vida, entro em depressão, saio da depressão... eu não sei até quando vou conseguir sair da depressão." (Roberta, 33 anos).

"Isso me levou a crises de histeria ... entrei em anorexia ... eu tava superdeprimida, com crise de bulimia. Eu queria continuar vivendo com a ilusão de que de repente 'ah, você é um hermafrodita e vamos ter que te operar às pressas' ... Já pensei até em colar [o pênis] com superbonder. É lógico que eu não faço porque não sou louca, mas já pensei. Já cheguei a usar esparadrapo para prender e ficar o dia inteiro, não podia fazer xixi." (Aline, 34 anos)

"Eu me sentia revoltada porque eu não conseguia me sentir nem uma coisa nem outra. Teve uma vez que eu fui parar no hospital psiquiátrico ... acho que eu tive uma crise de identidade, eu ficava confusa com quem eu era com quem eu não era." (Gabriela, 25 anos, desistiu da cirurgia ao longo do tratamento).

Experiência de pertencimento ao gênero feminino:

"... desde os sete anos eu já me sentia diferente dos outros meninos. Eu nunca fui igual aos outros garotos, eu nunca tive o mesmo comportamento, a mesma vontade que eles. Eu sabia que era diferente ... A adolescência foi um caos ... A infância até que foi boa, mas a adolescência e sendo adulto passando isso é um horror." (Roberta, 33 anos)

"Eu nasci uma mulher, eu só percebi que não era uma mulher quando eu vi uma mulher pelada na minha frente" (Priscila, 36 anos)

"... a minha aparência já foi feminina desde criança. Talvez não feminina, mas uma coisa meio andrógina ... Eu já era uma menina porque a minha mama já estava crescendo, a minha voz nunca foi grossa, nunca tive muita virilidade ... Eu sempre me isolei, eu não ia no banheiro de jeito nenhum. Quando a minha mama começou a crescer foi um problema seriíssimo porque eu era alvo de piadinhas, é... eu não sei se era macho-fêmea, era um termo bem chulo. O recreio para mim era um tormento." (Aline, 34 anos)

"Eu me olho no espelho e não me reconheço porque eu tenho um pênis no meio das pernas" (Roberta, 33 anos)

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